Desde
sua chegada ao Brasil, em 2010, a megacampanha de descontos no varejo
Black Friday tem a imagem arranhada por descontos falsos e maquiagem de
preços. As reclamações dos consumidores vão, inclusive, além desses
problemas. Falta de produtos nos estoques do comércio, atrasos nos
prazos de entrega acertados com os clientes e endereços de venda on-line
falsos contribuem para um estigma negativo que recai sobre a
liquidação, marcada para dia 29. A recomendação dos órgãos de
atendimento ao consumidor é pesquisar os preços com antecedência e
verificar os dados e as políticas de envio e troca das empresas.
A
maquiagem de preços consiste em aumentar o valor dos produtos para
depois anunciar descontos. Assim, o consumidor que é atraído pela falsa
promoção acaba pagando mais. A pesquisa de preços evita isso, pois o
cliente pode comparar a evolução do custo dos produtos e concluir se o
desconto que a loja oferece é real ou não.
Porém,
o coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais,
Marcelo Barbosa, acredita que o tempo já corre contra aqueles que não
iniciaram a pesquisa de preços. “No mínimo seis meses de monitoramento é
o ideal”, afirma. Para Barbosa, agora os comerciantes já podem ter
aumentado os preços.
Estudo realizado pelo site Social Miner ,
especializado em informações sobre comportamento, aponta que, dos 1.028
entrevistados, 52,7% já começaram a pesquisar os preços com mais de um
mês antecedência da Black Friday. Enquanto isso, 47,3% ainda não se
preocuparam com isso.
Desse
segundo grupo, 31,9% vão deixar para pesquisar entre 15 e sete dias
antes da data. Já 12,6% pretendem pesquisar só na última hora, um dia
antes ou na própria sexta-feira das promoções. A pesquisa tem
confiabilidade de 95% e uma margem de erro de três pontos percentuais.
"Não tem nada imperdível"
Para
evitar prejuízo, o coordenador do Procon recomenda que o consumidor só
compre na Black Friday se não poder esperar para comprar, tiver dinheiro
suficiente e monitorado com atenção os preços. Na avaliação de Barbosa,
qualquer grande promoção hoje se intitula como Black Friday.
“Não
tem nada imperdível, vai continuar tendo o tempo todo”, afirma. Por
isso, ele acredita que não vale a pena aproveitar as promoções da
campanha para adiantar as compras tradicionais do fim de ano. “É mais
seguro comprar no Natal do que agora”, sustenta.
O
Procon da ALMG lista algumas dicas para o consumidor evitar cair em
fraudes. É preciso ter cuidado com os sites falsos, que copiam os
originais. Dessa forma, é melhor checar se os dados dispostos nos sites,
como CNPJ e endereço, são válidos. Recusar anúncios que chegam por
e-mail ou SMS, ou que ofereçam descontos muito absurdos também é atitude
essencial. Por fim, o consumidor deve procurar saber sobre a reputação
do vendedor, e dar preferência a lojas as quais já conhece.
A
Proteste é uma entidade civil que atua na defesa dos direitos do
consumidor. A especialista em relações institucionais da associação,
Juliana Moya, acredita que o estigma negativo que a Black Friday tem no
Brasil se justifica. “Até o ano passado, recebemos denúncias de empresas
(fraudulentas). O que resta ao consumidor é pesquisar e verificar as
promoções”, explica. Juliana alerta para casos que vão além dos
descontos falsos.
Trocar
os produtos comprados pode ser um problema, já que as trocas podem não
ser garantidas pelo vendedor. “A nossa legislação não obriga as lojas a
trocar um produto sem defeito. Por isso, o consumidor tem que ficar
atento aos termos de troca”, diz. Os prazos de entrega também podem
levar a transtorno. “Se a empresa prometeu dois dias para a entrega, tem
que entregar com dois dias”, diz.
Juliana
acrescenta que, como a procura é muito alta na época da Black Friday, é
possível que os produtos se esgotem ou sejam entregues com atraso. Por
isso, é preciso verificar nas lojas se os produtos comprados realmente
estão disponíveis em estoque. Quem for comprar nas grandes redes tem de
entender que as promoções anunciadas podem não ser válidas em todas as
unidades.
Para o idealizador da Black Friday no Brasil, Ricardo Bove, parte do receio do brasileiro em comprar durante a campanha nasceu nos primeiros anos da iniciativa no país. De acordo com Bove,
o primeiro momento da sexta-feira de promoções no Brasil foi marcado
pela falta de preparo dos lojistas para atender um grande volume de
clientes.
Outro
fator que ele aponta é que não havia distinção clara entre as promoções
normais e as relacionadas à Black Friday. “Hoje os problemas acontecem
muito menos, pela atuação dos Procons e pelo hábito de pesquisa dos
usuários”, afirma.
Bove
acredita que o consumidor brasileiro tem receio de fazer compras
on-line, algo que é carregado para a Black Friday. “As compras on-line
ainda estão amadurecendo no Brasil”, analisa. Segundo o idealizador da
campanha, 60 milhões de pessoas já compraram pelo menos uma vez pela
internet, enquanto 120 milhões têm acesso à rede. Ou seja, ainda há
muita margem para ampliar esse segmento.
Dicas para evitar fraudes na Black Friday
- Acompanhe
a evolução dos preços dos produtos que pretende adquirir, bem como as
condições de pagamento de diversos fornecedores. No dia 29, confira se o
produto faz parte da Black Friday e compare seu preço com aqueles que
você coletou.
- Confira
se o produto que você deseja adquirir existe, de fato, no estoque da
loja. Há registros de casos em que o consumidor comprou um artigo pelo
preço promocional, mas a loja não entregou alegando falta de estoque.
- Se
a empresa alegar que falta nos seus estoques o produto pelo qual o
consumidor já pagou, há três opções para o cliente: exigir o cumprimento
forçado da oferta, aceitar um outro produto pelo mesmo preço pago ou
ainda receber de volta o dinheiro que pagou.
- Os
sites falsos são, pela aparência, praticamente idênticos aos originais.
Suspeite de ofertas muito tentadoras. Em caso de dúvida, ligue para o
Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da empresa e confira se o
preço praticado é mesmo o anunciado.
- Suspeite
dos anúncios recebidos por meio de redes sociais e aplicativos de
mensagens. Em 2016, o Procon Assembleia detectou em uma rede social a
oferta de uma TV por menos da metade do preço normal, supostamente
publicada por uma grande loja de varejo. Uma ligação para o SAC da
empresa foi o suficiente para comprovar que se tratava de fraude.
- Evite
acessar sites que são enviados por e-mail ou SMS. Se quiser entrar no
site de alguma empresa, digite o endereço eletrônico dela no navegador
de seu computador. Não entre pelo link fornecido.
- Grave todas as telas e comunicações eventualmente realizadas com o fornecedor.
- O
site da ALMG contém link para uma lista preparada pela Fundação Procon
SP chamada “Evite esses sites”. A relação traz o endereço eletrônico em
ordem alfabética, razão social da empresa e número do CNPJ ou CPF, além
da condição de “fora do ar” ou “no ar”. Essa lista é composta por sites
que cometeram fraudes ou que não puderam ser encontrados, quando
notificados pelo Procon.
- O
site deve conter nome da empresa, endereço físico e demais informações
necessárias para que o fornecedor possa ser localizado e contatado. O
Procon Assembleia recomenda ligar para confirmar todos os dados.
- Algumas ferramentas do Google, como o “Google Maps” e o “Street View”, podem ajudar a descobrir se o endereço fornecido no site realmente existe.
- Verifique
se o site é seguro: no momento da transação, confira se no canto
inferior da tela se há um cadeado ou chave. Atualize seu programa
antivírus, bem como os programas de monitoramento contra spywarese firewall.
- Forneça apenas os dados solicitados pelo site durante a transação, nada mais.
- Fique
atento à reputação do vendedor. Verifique depoimentos, reclamações e as
avaliações da empresa. Os sites “Reclame Aqui” e “Consumidor.gov.br” são boas fontes para essas informações.
- Guarde
todos os dados da compra, como o nome do site, produtos pedidos, valor
pago, forma de pagamento, data de entrega do produto e número de
protocolo da compra ou do pedido, se houver.
- Não faça compras ou qualquer operação bancária utilizando computadores de lanhouses ou cybercafés. Eles podem conter programas maliciosos que furtam números de cartões de crédito e senhas.
- Não
se impressione com aqueles cronômetros enormes em contagem regressiva
informando que a promoção está acabando. Isso é apenas uma pressão para
que você compre logo, sem pensar muito.
De
acordo com o site blackfriday.com.br, o endereço eletrônico oficial da
campanha no Brasil, em 2019 o faturamento do comércio em Minas Gerais
deve representar 10% do total nacional. Belo Horizonte será responsável
pela maior parte dessa fatia: 4%, que significa R$ 136 milhões em
vendas. A expectativa dos organizadores é de que a Black Friday supere
R$ 3,15 bilhões em faturamento neste ano, crescimento de 21% em relação a
2018.
Fonte: Jornal Estado de Minas